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Estudo mostra que Brasil está abaixo da meta de vacinação contra HPV

Dia Mundial da Prevenção do Câncer de Colo do Útero, celebrado neste domingo (26)

Por Antonio Neres em 26/03/2023 às 11:00:36

Estudo da Fundação do Câncer, divulgado para marcar o Dia Mundial da Prevenção do Câncer de Colo do Útero, celebrado neste domingo (26), revela que todas as capitais e regiões brasileiras estão com a vacinação contra o HPV (PapilomavĂ­rus humano) abaixo da meta estabelecida pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI) e pela Organização Mundial da SaĂșde (OMS). Isso significa que até 2030, o Brasil não deverĂĄ atingir a meta necessĂĄria para a eliminação da doença, que constitui problema de saĂșde pĂșblica. O levantamento tem como base os registros de vacinação do PNI de meninas entre 9 e 14 anos, no perĂ­odo de 2013 a 2021, e meninos de 11 a 14 anos, entre 2017 e 2021.

Em todo o Brasil, a cobertura vacinal da população feminina entre 9 e 14 anos alcança 76% para a primeira dose e 57% para a segunda dose. A adesão à segunda dose é inferior à primeira, variando entre 50% e 62%, dependendo da região. Na população masculina entre 11 e 14 anos, a adesão à vacinação contra o HPV é inferior à feminina no Brasil como um todo. A cobertura vacinal entre meninos é de 52% na primeira dose e 36% na segunda, muito abaixo do recomendado. A Região Norte apresenta a menor cobertura vacinal masculina, de 42% na primeira dose e de 28% na segunda. O estudo completo pode ser acessado no site da Fundação do Câncer.

Destaques

NotĂ­cias relacionadas:

Em entrevista à AgĂȘncia Brasil, a consultora médica da Fundação do Câncer e colaboradora do estudo FlĂĄvia CorrĂȘa afirmou que hĂĄ uma diferença regional marcante. "O mais preocupante é que justamente o Norte e o Nordeste, que tĂȘm as maiores taxas de incidĂȘncia de mortalidade por câncer de colo de Ăștero, são as regiões onde encontramos a menor cobertura de vacinação". De acordo com a médica, isso acende o alerta de que é necessĂĄrio investimento grande em medidas educativas para a população, para as crianças e adolescentes, pais e responsĂĄveis e para profissionais de saĂșde, a fim de aumentar a cobertura.

De acordo com o levantamento, a Região Norte apresenta a menor cobertura vacinal completa (primeira e segunda doses) do paĂ­s em meninas: 50,2%. Entre os meninos, o percentual é de apenas 28,1%. A região também foi a que mais registrou óbitos por câncer de colo de Ăștero no perĂ­odo 2016/2020: 9,6 por 100 mil mulheres, contra a média brasileira de 6 a cada 100 mil mulheres.

De todas as regiões do paĂ­s, o Sul é a que mais se aproxima da meta estabelecida (87,8%) na primeira dose em meninas. Por outro lado, é a região que apresenta maior Ă­ndice de absenteĂ­smo, ou não comparecimento, na segunda dose: 25,8% entre as mulheres e 20,8% entre os homens, enquanto a média do paĂ­s é de 18,4% e 15,7% nas populações feminina e masculina, respectivamente. JĂĄ o Nordeste tem a menor variação entre a primeira e a segunda dose, tanto feminina (71,9% e 57,9%) quanto masculina (50,4% e 35,8%).

MĂșltiplas doses

Segundo FlĂĄvia, toda vacina que tem mĂșltiplas doses costuma apresentar problema do absenteĂ­smo, especialmente entre os adolescentes. "Em qualquer vacina que tenha mĂșltiplas doses, o que se vĂȘ é que existe realmente uma queda para completar o esquema vacinal". Isso acontece não só no Brasil, mas no mundo todo. No caso da vacinação contra o HPV, a recomendação do PNI é continuar com duas doses, embora a OMS jĂĄ tenha dado aval para que seja utilizada uma dose Ășnica, dependendo das circunstâncias locais. "É preciso haver uma conscientização muito grande para que se complete o esquema vacinal".

Ela lembrou que seria muito importante a vacinação voltar a ser feita nas escolas, como ocorreu no primeiro ano em que a primeira dose foi disponibilizada nas unidades de ensino e de saĂșde. A partir da segunda dose, só estava disponĂ­vel nas unidades de saĂșde. FlĂĄvia destacou que em todo o mundo, o esquema que deu mais certo foi o misto, em que a vacinação estava disponĂ­vel ao mesmo tempo na escola e nas unidades de saĂșde. "Esse é um ponto muito importante".

Capitais

O estudo mostra também que Belo Horizonte é a Ășnica capital com cobertura vacinal feminina acima de 90% na primeira dose. Considerando o esquema vacinal completo, esse percentual cai para 72,8%, mas ainda continua sendo a capital que mais protegeu sua população contra o câncer de colo de Ăștero no paĂ­s, considerando o perĂ­odo de 2013 a 2021. Em seguida, aparecem Curitiba, com 87,7% e 68,7% (dose inicial e reforço) e Manaus, com 87,0% e 63,2% (primeira e segunda doses).

Fortaleza foi a capital do Nordeste com maior cobertura vacinal na primeira dose (81,9%) e na segunda dose (60,1%). São LuĂ­s, ao contrĂĄrio, obteve os menores percentuais na primeira (51,4%) e na segunda (36,7%). BrasĂ­lia e Goiânia, no Centro-Oeste, apresentaram os maiores e menores percentuais na primeira e segunda doses, da ordem de 78,1% e 58,6% e 62,1% e 43,5%, respectivamente.

No Sudeste, o Rio de Janeiro teve Ă­ndice vacinal de 72,1% na primeira dose e 49,1% na segunda; em São Paulo, o Ă­ndice também é baixo (76,5% e 59,8%). O mesmo ocorre em Porto Alegre, na Região Sul, onde somente 42,7% da população feminina estão com o esquema vacinal completo, 21 pontos percentuais abaixo da dose inicial da vacinação. O pior cenĂĄrio, contudo, é registrado em Rio Branco, no Norte do paĂ­s: apenas 12,3% da população feminina tomaram as duas doses da vacina contra o HPV. Na primeira dose, foram 14,6%. "Até hoje, a cobertura no Acre é baixĂ­ssima", comentou a médica.

Desinformação

FlĂĄvia CorrĂȘa chamou a atenção para o fato de que hĂĄ ainda muita desinformação sobre a vacina contra o HPV. Muitos pais ignoram que a vacina previne contra o câncer de colo do Ăștero e não incita o inĂ­cio da vida sexual antes do tempo. Outros não sabem qual é a faixa etĂĄria em que os filhos devem se vacinar. "HĂĄ uma falta de informação muito grande que precisa ser abordada com medidas educativas, mais fortes, tanto para as crianças e adolescentes, quanto para os pais, a sociedade como um todo. É necessĂĄrio ampliar a discussão sobre a questão da vacina, mostrar os dados que dizem que ela é segura, não estimula a atividade sexual precoce".

A consultora médica da Fundação do Câncer disse que a cobertura vacinal é menor para os meninos, tanto na primeira quanto na segunda dose, porque as pessoas ainda não entenderam que a vacinação de meninos é necessĂĄria não só para proteger as meninas do câncer de colo do Ăștero, mas porque traz benefĂ­cios também para os representantes do sexo masculino. Ao vacinar ambos os sexos, diminui a disseminação do vĂ­rus, explicou.

Além de proteger as meninas e mulheres contra o câncer de colo do Ăștero, os meninos podem ser beneficiados com a vacina para evitar câncer de pĂȘnis, de orofaringe, câncer de boca, de ânus, entre outros tipos. Na mulher, a imunização também evita câncer de vulva, vagina, faringe, boca. "Isso precisa ser bastante divulgado", observou FlĂĄvia CorrĂȘa.

A vacina é segura e estĂĄ disponĂ­vel gratuitamente no Sistema Único de SaĂșde (SUS) para meninos e meninas de 9 a 14 anos, em esquema de duas doses, e para mulheres e homens transplantados, pacientes oncológicos, portadores de HIV, de 9 a 45 anos, em esquema de trĂȘs doses.

Fonte: AgĂȘncia Brasil

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