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Câncer de pênis: Sociedade Brasileira de Urologia faz mutirão para cirurgia de fimose 

A Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) faz campanha de combate ao câncer de pênis

Por Antonio Neres em 04/02/2022 às 08:51:34

A Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) realiza neste mĂȘs campanha de combate ao câncer de pĂȘnis. Nos Ășltimos quatro anos, foram registrados mais de 8 mil casos no paĂ­s, de acordo com o Sistema de Informações Hospitalares do Sistema Único de SaĂșde (SIH/SUS).

Hoje (4), Dia Mundial do Câncer, foi escolhido pela instituição como Dia de Enfrentamento do Câncer de PĂȘnis. A SBU inicia um mutirão de cirurgia de postectomia, ou circuncisão, em estados do Norte e Nordeste, visando atender cerca de 150 homens, pacientes da rede pĂșblica de saĂșde.

A cirurgia de fimose é forma de prevenir a doença, pois facilita a limpeza do órgão genital masculino, disse o supervisor da Disciplina de Câncer de PĂȘnis da SBU, José de Ribamar Rodrigues Calixto. Embora o Sudeste tenha apresentado o maior nĂșmero de casos nos Ășltimos quatro anos (3.162), as regiões Norte e Nordeste foram escolhidas para iniciar o mutirão porque tĂȘm maior prevalĂȘncia da doença. O Nordeste, por exemplo, lidera o ranking, com 9,93 casos por 100 mil habitantes.

O primeiro estudo epidemiológico feito pela SBU hĂĄ alguns anos identificou que São Paulo ocupava o primeiro lugar na prevalĂȘncia de câncer de pĂȘnis, "grande parte dos casos oriunda do Norte e do Nordeste, que busca tratamento em São Paulo", ressaltou o urologista.

A Universidade Federal do Maranhão (UFMA) publicou artigo em revista especializada, mostrando que o estado é recordista na prevalĂȘncia desse tipo de câncer no mundo. A taxa chegou a 6,2 casos para cada 100 mil habitantes. "É muito alta"., disse Calixto, acrescentando que do Amazonas à Bahia, os estados do Norte e Nordeste são também menos servidos por centros especializados de oncologia.

Diagnóstico

Segundo o professor, a postectomia, ou fimose, não evita o câncer, mas fornece diagnóstico mais precoce das lesões que estão começando na glande do pĂȘnis. Ele afirmou que, no Brasil, os diagnósticos são feitos, "infelizmente", em casos jĂĄ muito avançados. Lamentou que a realidade brasileira seja a de operar o câncer de pĂȘnis nas fases T2 e T3, quando os tumores são de tamanho médio ou grande. As cirurgias deveriam ser feitas na fase T1, a primeira.

Por isso, é elevado o nĂșmero de amputações de pĂȘnis no Brasil. De acordo com a SBU, nos Ășltimos 14 anos foram registradas 7.213 amputações do órgão masculino, o que corresponde a um aumento de 1.604% no perĂ­odo e a uma média de 515 procedimentos por ano.

Como a condição sociocultural e econômica é muito baixa no Norte e Nordeste, a maioria dos homens ignora que existe a doença. "Acham que é venérea, que é uma doença do tempo, que remédios naturais vão resolver". Quando procuram o urologista, jĂĄ estão em fase bastante avançada, com diagnóstico de grandes lesões. "Não queremos isso. A gente quer, pelo menos, diagnosticar na fase precoce; não amputar ou, se amputar, tirar apenas um pedacinho do pĂȘnis, ressecar aquela lesão, só tirar o prepĂșcio, onde nasceu a lesão, e preservar a haste peniana".

A maior incidĂȘncia de câncer de pĂȘnis, acima de 60%, é detectada, em geral, entre homens na faixa etĂĄria de 50 a 60 anos, mas os urologistas jĂĄ tiveram casos na faixa de 28 a 30 anos. Na UFMA, médicos operaram, inclusive, um jovem de 19 anos. "É muito raro isso". Entre 15% e 18% dos homens acometidos pela doença tĂȘm entre 30 e 40 anos.

Calixto informou que a fimose, ou excesso de pele que impede que a cabeça do pĂȘnis, ou glande, seja esterilizada, associada à contaminação com algum tipo de HPV e à falta de higiene são alguns fatores que podem levar à doença. Embora ainda não haja comprovação da histogĂȘnese induzida pelo HPV no câncer de pĂȘnis, jĂĄ estĂĄ comprovado o envolvimento do vĂ­rus na gĂȘnese da doença, disse o especialista.

Educação sociossanitĂĄria

Calixto defendeu a necessidade de se desenvolver no paĂ­s uma educação sociossanitĂĄria. "Lavar, expor esse pĂȘnis". Em muitos casos, os médicos partem para a reconstituição fĂĄlica, para devolver a autoestima e a função sexual. São nĂ­veis de atuação que a SBU jĂĄ pratica.

Ele lembrou que o câncer de pĂȘnis é o Ășnico que pode ser evitado. "Antes que venha, a gente antecipa. Faz uma previsão dele. Se houver boa higiene, sem comportamento sexual de risco, evitando vĂĄrios parceiros ou parceiras para não se contaminar com vĂ­rus, usar preservativo e, se tiver fimose, tirar essa pele para que consiga lavar a glande com efetividade, com ĂĄgua e sabão, é praticamente impossĂ­vel que o câncer se desenvolva". O urologista lembrou também a importância do uso de preservativo no coito anal com parceiro ou parceira, para impedir contaminação do pĂȘnis com bactérias presentes nas fezes.

Observou que o judeu faz a circuncisão culturalmente e não tem prepĂșcio. O mesmo acontece com os indĂ­genas. "A incidĂȘncia nessa comunidade é praticamente zero". Por isso, a SBU defende a postectomia em quem tem fimose. "É uma cirurgia factĂ­vel, ambulatorial e protetiva".

A recomendação é que os homens lavem efetivamente a glande trĂȘs vezes ao dia, façam a retirada do prepĂșcio e estimulem a vacinação contra o HPV, cuja adesão no Brasil ainda é bastante reduzida. É preciso trabalhar o conceito da proteção, alertou. A boa higiene deve fazer parte da educação das crianças e dos pais, incluindo escovar os dentes, lavar o pĂȘnis com ĂĄgua e sabão, fazer uma boa higiene vaginal na menina, não deixar as crianças se sentarem no chão com roupa Ă­ntima para não se contaminar com bactérias, defendeu.

José de Ribamar Calixto disse ainda que a expectativa é que este ano seja divulgado o desenvolvimento de uma prótese peniana por pesquisadores estrangeiros para restaurar a parte funcional e emocional de homens amputados.

Ao longo deste mĂȘs, a SBU farĂĄ transmissões online com urologistas no Portal da Urologia no Instagram, além de publicar posts e vĂ­deos esclarecendo as principais dĂșvidas sobre esse tipo de câncer, a postectomia, vacina contra HPV e educação sobre a doença.

IncidĂȘncia

Segundo dados obtidos pela Sociedade Brasileira de Urologia no Sistema de Informações Hospitalares do Ministério da SaĂșde, houve queda no nĂșmero de registros entre 2020 e 2021, atribuĂ­da à pandemia de covid-19, que reduziu a procura por tratamento médico. Os casos de câncer de pĂȘnis totalizaram 2,14 mil em 2018; 2,19 mil em 2019; 2,09 mil em 2020; e 1,79 mil no ano passado.

O maior nĂșmero de casos nesses quatro anos foi registrado no Sudeste (3,16 mil), seguido pelo Nordeste (2,57 mil), Sul (1,18 mil), Centro-Oeste (658) e Norte (645). Nesse mesmo perĂ­odo, a prevalĂȘncia foi maior no Nordeste (9,93); seguindo-se o Centro-Oeste (9,42); Sul (8,82); Sudeste (8,09); e Norte (8,05). Os estados com maior registro de tumor de pĂȘnis são São Paulo (1,48 mil), Minas Gerais (1,05 mil), Bahia (609) e ParanĂĄ (565).

Em nĂșmeros absolutos, a região com maior incidĂȘncia de amputação é o Sudeste, com 2,87 mil casos no perĂ­odo, seguido pelo Nordeste (2,10 mil), Sul (1,13 mil), Norte (631) e Centro-Oeste (472). Os estados com maior nĂșmero de casos de amputação são São Paulo (1,22 mil), Minas Gerais (1,06 mil) e ParanĂĄ (582).

Alerta

Segundo a SBU, os homens devem estar em alerta para qualquer mudança na genitĂĄlia, que deve ser avaliada pelo urologista. Entre elas destacam-se ferida que não cicatriza, nódulos, secreções saindo do prepĂșcio, ĂĄrea vermelha endurecida, sangramentos vindo da glande que não é exposta, pruridos (coceiras). Essas mudanças podem ser pré-malignas. Consultando um especialista, o homem pode evitar a evolução para o câncer, orientou o supervisor da instituição.

De acordo com o Datasus/Sistema de Informação do Programa Nacional de Imunizações, de 2013 a 2020, a média nacional de cobertura para a segunda dose da vacina contra o HPV na população entre 11 e 14 anos é de 65,8% para a feminina e 35,6% para a masculina. Os estados com menor cobertura vacinal, com duas doses para meninos, são Acre (15,2%), AmapĂĄ (20,6%), ParĂĄ (22,6%) e Rio de Janeiro (23,1%). A vacina no SUS estĂĄ disponĂ­vel para meninas entre 9 e 14 anos e meninos entre 11 e 14 anos.

O HPV tem prevalĂȘncia mundial estimada em 11,7%, e a faixa etĂĄria de maior incidĂȘncia é abaixo de 25 anos.

Fonte: AgĂȘncia Brasil

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